sábado, 19 de janeiro de 2013

Um prelúdio: a Poli.

       Naquela mesma tentativa de evitar que certas memórias me caíssem no esquecimento — e não esquecendo de me manter leal àquilo que me propus a tentar quando me joguei nessa aventura de blogar — hoje tentarei remontar em uma série de postagens a um dos eventos que mais marcaram minha vida. 


Minerva: deusa da sabedoria e das artes; símbolo da Engenharia.
 Também símbolo da Escola Politécnica.


       Ingressei no curso de Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, também conhecida por Poli/USP, em 2011. É interessante que nele primeiramente se entra em uma Grande Área (GA), como a GA Química, GA Mecânica, GA Civil, GA Elétrica. Destas se desenrolam as diversas engenharias, uma das quais a que o ingressante devotará de fato.
       Com efeito, o vestibulando escolhe a grande área ainda na inscrição para o vestibular, podendo, obviamente, alterar sua ordem de preferência como lhe convier no dia de matrícula. Tendo sido aprovado, passará os dois primeiros anos, a que chamamos de Ciclo Básico — é durante este período de tempo que o aluno teoricamente reúne todas as ferramentas necessárias para uma boa formação na engenharia que ele escolher. Na prática, apenas o primeiro ano é igual e básico para todos, de forma que pessoas de todas as engenharias, independente de suas grandes áreas, irão conglomerar-se em um total de doze turmas com cerca de 60/70 alunos aproximadamente. A partir do segundo ano, aí sim ocorre a subdivisão entre grande áreas e nesse já haverá certas matérias bem mais relacionadas a sua grande área. Por exemplo, a disciplina de Mecânica A é oferecida ainda no primeiro ano, mas já a sua gêmea mais bondosa Mecânica B é oferecida somente aos alunos da GA Mecânica no segundo ano.
       Tendo sobrevivido ao biênio, para alguns temível, cada aluno conviverá em sala de aula apenas com seus semelhantes da respectiva engenharia e eles serão amargamente deixados ao infeliz desconsolo de não mais ter aulas das matérias-base para toda carreira na área de Exatas: as Físicas e os Cálculos.

       O curso de qualquer engenharia na Escola Politécnica tem a duração de cinco anos, podendo ser com toda a satisfação de nossa minerva-mãe estendidos a algumas unidades de ano. 
       A internacionalização por que passam atualmente as instituições brasileiras de renome, incluída nessas a Universidade de São Paulo, abre portas aos interessados para que possam desfrutar alguns semestres no estrangeiro, cursando matérias que aqui não se oferecem. Dela surge a oportunidade de ter contato com os negócios internacionais, do conhecimento de uma cultura antes estranha, do aprimoramento de um idioma, de se mundializar... E, claro, a oportunidade de crescer no âmbito pessoal e de — entendam o trocadilho! — se desbravar.  

       Tendo firmado inúmeras parcerias, sobretudo com instituições europeias, hoje na Escola Politécnica há três tipos de modalidade de intercâmbio acadêmico internacional, conforme consta aqui.

   1) Intercâmbio aberto: o aluno interessado escolhe a instituição de ensino estrangeira onde deseja 
                                       estudar que deve não figurar entre as parceiras da Escola. Desse modo, o aluno 
                                       não precisa participar do processo seletivo a que é submetido pela Escola 
                                       Politécnica. As taxas cobradas pela escola estrangeira deverão ser pagas pelo 
                                       próprio aluno e ficam por sua conta o contato e o fornecimento da 
                                       documentação necessária para a admissão. Evidentemente o aluno tem à 
                                       disposição uma gama de programas que oferecem bolsas-auxílio e que ainda 
                                       intermediam todo o processo, como é o caso do Ciência Sem Fronteiras (CsF), 
                                       iniciativa do governo brasileiro. Um programa deste tipo costuma durar de um 
                                       semestre a 1 ano.

   2) Aproveitamento de Créditos: diferentemente daquele, neste o aluno opta pela escola parceira e 
                                                      está "prontamente segurado" pela Comissão de Relações 
                                                      Internacionais (CRInt). Aqui ele já não mais terá que pagar pelas 
                                                      taxas escolares e ainda tem a regalia de escolher as disciplinas que 
                                                      pretende cursar. Preço a pagar? Terá de participar do processo 
                                                      seletivo específico que conta com avaliação do resumo escolar (ah, 
                                                      a famosa média Poli...), entrevistas de professores da Poli, 
                                                      professores da instituição e/ou ainda provas para avaliar o 
                                                      rendimento acadêmico do aluno. 

       Aqui dedico um parágrafo para ressaltar a observação de que quase tudo na Poli/USP é conseguido mediante a sua média Poli — julgamentos acerca da justiça disso à parte. 
       A média Poli é o similar do Coeficiente de Rendimento (CR) de algumas universidades. Ela vai de 0 a 10. Há boatos de que a média dos politécnicos oscila entre 5,5 e 6,5, o que posso estar sub ou superestimando mas do que devo confessar que não duvido. Agora, não ouso fazer uma estimativa para o desvio-padrão, um parâmetro de dispersão que leva em conta o quanto alguns alunos estão distantes da média. Em outras palavras, tenhamos, por exemplo, duas salas de aula, ambas com a média 7, o que, muito porém, não diz nada sobre a igualdade entre os alunos, uma vez que em uma pode ser que tenhamos alunos tirando notas mais ou menos homogêneas, todas ao redor de 7; na outra, enquanto, pode ser que tenhamos alguns alunos muito bons cujas notas não costumam ser menores que 8,5 mas que tal fato se compense com a existência de alunos que por motivos diversos não tiram notas que abaixo de 5,0. 

   3) Duplo-Diploma: o que o diferencia esta modalidade da anterior é o fato — o diferencial, na 
                                  verdade — de o aluno ao se formar obter dois diplomas, o da Escola Politécnica 
                                  e o da instituição estrangeira. As instituições parceiras são em sua maioria 
                                  francesas, alemãs e italianas. Há pouca flexibilidade na escolha de disciplinas 
                                  que o aluno irá cursar e este passará dois anos na instituição, com a equivalência 
                                  de 2 anos fora matarem 1 ano na Poli. É uma modalidade atraente e de certo a 
                                  mais meticulosa. A participação de qualquer modalidade de intercâmbio só pode 
                                  ser feita a partir do 5º semestre, enquanto o primeiro processo seletivo para uma 
                                  escola parceira já acontece no 4º semestre, no caso, das Écoles Centrales (em 
                                  Português: Escolas Centrais) francesas.

       Devidamente apresentados, caros leitores, é hora de saber aquilo que realmente importa. 
       Como alguns já o sabem, fui aprovado para um programa de Duplo Diploma na École Centrale Paris e nas próximas postagens, que prometo não tardarem muito, falarei mais sobre a École, a entrevista, o processo, bolsas-auxílio, entre outros.
       Espero com tudo isso poder compartilhar algo que considero de grande valia para mim e ainda prover aos interessados algumas informações a mais sobre o processo.


       Antes de me despedir, confesso que não, ainda não me dou conta da grandiosidade de saber que Paris será a cidade que me acolherá pelos próximos dois anos. It's all still too huge


Paris, la Ville-Lumière


       Então, até mais ver! Ou melhor... À bientôt!


Gildo Jr. .         
  

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Deixando-se desbravar...

       Motivado por uma grande pessoa que recentemente também aderiu à aventura de blogar suas experiências pessoais, de externalizar o que lhe permanecia no pensar, sem muita insistência, me pus a tentar.
       Ora, que mal faria? Os outros saberiam de mim, se, claro, lhes interessasse. Eu me aliviaria a pobre mente de armazenar tantas recordações que valessem a pena e talvez elas não mais cairiam no olvido fatal em que tantas outras caíram.


       Ao que se desse um pouco de importância e cuidado, se cativasse, seria eternizado. Não queria eu, longe de mim, que o que vivi se tornasse efêmero. De que serve vida jogada aos ventos?
       Andamos todos pelo mesmo deserto. Alguns preferem andar só; outros trocam água e se permitem a companhia, ainda que só por uma noite. As estrelas sempre rendem histórias incríveis...

       A ideia não me era ausente, confesso; a coragem, sim. Há muito que pensava em escrever das tão sábias reflexões que só podem vir de alguém que sequer cresce uma barba digna ou então tenha achado um fio branco no rol de fios que cultivo em minha cabeça, e tentar chegar a padrões literários - quiçá destituir Machado ou Manuel de seus postos.
       Para meu infortúnio - e obviamente, para seus suspiros, rs - a inspiração que se devia não havia antes que em poucas doses e palavras, que preguiçosamente repousavam numerosas nas folhas de um dicionário que tenho em um criado-mudo ao lado esquerdo de minha cama, não me chegavam à mente. Ah, a maturidade enfim...

"(...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir."
(Monteiro LOBATO, Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15/11/1904)                          


       Hoje passo por uma época que considero importante em minha vida (de que aos poucos vou contando...).
       Cresço a cada dia. Aprendo a cada hora. Reflito a cada minuto.


       Núcleo de cometa... Sigo o conselho de Monteiro Lobato.
       Não há tempo a perder: cometas viajam por anos-luz e somem num piscar de olhos. 
       Chegou a minha hora de contar as minhas histórias, deixar meu eu-pensante florir e empurrar Machado pro escanteio...

... e continuar sonhando, assim bem alto, um bocado mais! 


Gildo Jr.